Rubrica ‘Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página’** | Marca de água de livros que deixam marcas profundas
Parceria: Federação Portuguesa pela Vida e Comissão Diocesana da Cultura
Luís Manuel Pereira da Silva*
O autor e a obra
Gabriele Kuby, A geração abandonada, Cascais, Princípia Editora, 2021.
Gabriele Kuby é o que designo como uma ‘autora-pirilampo’. Caracteriza os ‘autores-pirilampos’ a capacidade de manterem intensa uma luz que lhes é própria mesmo em tempos de densa escuridão. E, como os pirilampos, são escassos e correm o risco da extinção: a poluição dos tempos e lugares colocam em perigo a sua existência.
Distintamente, porém, dos coleópteros a que também se dá o nome de ‘vaga-lume’, estão muito conscientes da fragilidade em que assenta a sua existência.
Gabriele Kuby bem o sabe. Está claramente consciente de que os tempos decadentes (e, por isso, de treva) em que vivemos se inebriam com a sua vacuidade e ufanam-se dela, sendo arrogantes e vigorosos. E, por isso, não teme, mas sabe como rugem as vozes que a querem silenciar.
Kuby bem sabe de que linhas se fazem os tecidos dos teares de hoje, pois também ela, enquanto socióloga, moveu as peças que enredam as lãs do novelo e constroem os hábitos com que, hoje, se veste a humanidade.
Mas em bom tempo dali se afastou e hoje, após uma tardia conversão ao catolicismo, no final da década de noventa, tornou-se uma voz que desperta do torpor coletivo que parece ter tomado conta do mundo, em particular do ocidente.
Os seus livros, de que se destaca o seu ‘a revolução sexual global’, secundando por este ‘a geração abandonada’, poderiam ter a forma de um relógio de mesa-de-cabeceira, pois inquietam e acordam consciências.
Neste tempo, em que as retóricas tornaram comum e vulgar o que é exceção e pretendem excecional o que é comum, a voz de Gabriele Kuby incomoda, porque nos coloca diante da verdade dos factos.
Kuby é corajosa. Sabemos (e ela também o sabe) como ousar questionar as agendas do ‘politicamente correto’, do ‘wokismo’, é colocar-se a jeito de ser cancelado. Mas, como já vamos ouvindo algumas vozes recordar, se lutámos pela liberdade, foi para nos subjugarmos a quem nos quer impor uma ideologia que nega o real e se propõe reconstruí-lo sobre constructos mentais artificiais? Kuby não aceita essa subjugação.
Ousa questionar, voltar à raiz das coisas, aos alicerces da realidade humana.
Desmascara as farsas e arrisca propor caminhos, em nome de uma autêntica liberdade, de uma genuína compaixão, de uma efetiva solidariedade humana.
Como se, perante os taipais com que se pretende disfarçar os efeitos de um tsunami, escolha a autenticidade dos escombros para, diante deles, reconstruir um sólido futuro. Os taipais não passarão, para Kuby, de um verniz que oculta o caos que é preciso olhar de frente para que se possa construir uma realidade robusta.
Marcas de água (o que fica depois de se deixar o livro)
Gabriele Kuby mostra, neste livro, grande inteligência. Bem sabemos, porém, que os seus ‘não leitores’ dirão dela, apenas os chavões habituais, assentes nos inúmeros preconceitos de quem não quer ousar parar para refletir. A vertigem de andar para diante, sem que saibam onde fica esse ‘adiante’, é que os move. Kuby propõe-se questionar se temos andado para diante ou se, pelo contrário, em nome do avançar, do progredir, nos temos desumanizado, cindido e dividido cada vez mais.
A resposta a esta questão fundamental encontramo-la no início e no final do livro.
Nas últimas páginas, encontramos a síntese de todo o caminho feito: ‘O mundo em que vivemos – aquele em que as crianças nascem – pulverizou e expôs a arbitrariedade das decisões humanas. O que devia estar unido foi separado: o corpo da alma, o homem da mulher, a sexualidade da fertilidade, a procriação da sexualidade, a crianças dos seus pais biológicos. Não terá chegado a altura de juntarmos novamente o que deve estar junto – corpo e alma, homem e mulher, sexualidade e fertilidade, pais e filhos?’ (p. 266)
Diante desta constatação se define a linha estruturante do livro: denunciar o que tem dividido o ser humano que somos, a realidade humana em que nos fazemos, propondo modos de superar essas cisões. No seu livro, a nossa autora percorre temas como o aborto, a educação sexual no contexto escolar, a equiparação dos múltiplos modelos de agregação de pessoas à estrutura familiar, as barrigas de aluguer, a procriação tecnicamente realizada, o impacto da pornografia no crescimento das novas gerações, as consequências das políticas de facilitação do divórcio, as estratégias de manipulação da opinião pública ao serviço da promoção da teoria de género, etc. O seu prisma é o de uma autora de contexto alemão, mas um leitor português sentirá que, lá como cá, as linhas repetem-se…
Os dados que recolhe (todas as suas afirmações estão blindadas, pois está consciente de quanto os adversários da sua tese farão para as descredibilizar) arrepiam. Demonstram como, em nome do individualismo que nos vem isolando cada vez mais, estamos a tornar esta geração um joguete nas mãos de adultos autocentrados e que perderam o sentido da dedicação e do sacrifício pelos mais novos. Importa a satisfação pessoal, mesmo que ela custe o direito a ter pai e mãe ou a ser criança, ou a ser amado, ou a ser respeitado no direito a saber donde se vem, ou, ou, ou…
As páginas deste livro lacrimejam: vertem as lágrimas não derramadas, de tão secos os sacos lacrimais de todas as vítimas de ideologias que rompem o que é humanamente desejável – o direito a nascer-se num quadro de amor, segurança e estabilidade.
Kuby retoma questões a que é preciso regressar como na primeira hora em que se tomou de assalto a convicção de que eram incontornável seguir a resposta então adotada: como poderá pensar-se o aborto como um direito quando em causa está a vida de um desprotegido humano? Como poderá deixar-se sobrepor o direito dos pais à felicidade no amor sem acautelar o direito dos filhos à felicidade de viverem a segurança de uma família originariamente constituída? Como poderá pretender-se assegurar um putativo direito a ter filhos quando, originariamente, deveria, sim, reconhecer-se um direito dos filhos a encontrarem nos seus pais biológicos o amor e o cuidado? Como poderá pretender-se que se, tecnicamente, é possível gerar um filho assim será de se fazer, sem acautelar as condições ético-morais em que a possibilidade técnica deverá ser concretizada? Poder fazer é sinónimo de ser legítimo?
Kuby ousa olhar para as consequências do que foram sendo decisões vertiginosas, tantas vezes tomadas em contextos de pressão mediática e estrategicamente bem estruturadas para que não se tivesse tempo de pensar.
E olha-as sob o prisma da grande vítima de todas estas decisões ditas ‘progressistas’: as crianças, os filhos! Eles são, com efeito, a geração abandonada de quem se deixou compadecer Kuby e que nos convida a que nos associemos à sua compaixão.
Contra os que nos querem vender a ideia de que os compassivos são os que querem mudar as leis em nome de abstratas inclusões, Gabriele Kuby fala de uma genuína compaixão que sofre as dores reais das crianças reais, filhas e filhos reais de famílias reais. Fala da realidade que leis inumanas, sustentadas no individualismo e num entendimento solipsista da liberdade, fragilizaram e fragmentaram. E, de forma corajosa e grávida de esperança, Gabriele Kuby desafia como que à recuperação da paciência do ourives que trabalha a filigrana: os cacos já se quebraram em pedaços próximos da pulverização, mas, paulatinamente, será possível reunir o que se quebrou. Este livro é um passo importante para que tal se torne possível. Assim seja acompanhada a sua publicação com profusa leitura. Os muitos leitores de Kuby poderão tornar-se, eles mesmos, ‘leitores-pirilampos’. E a escuridão clareará…
Na mesma página que o autor (citações)
‘Na nossa sociedade, as crianças são vistas em grande medida como um fardo. E ter e educar crianças não é, de facto, um conto infantil. É tarefa séria da vida. Vêm no mesmo pacote grandes alegrias e grandes sacrifícios. Durante a grande prosperidade, foi contada uma mentira a toda uma geração: que o divertimento é o sentido da vida, e que esse divertimento vem sem sacrifício ou sofrimento. De um momento para o outro, dar à luz destrói esta mentida. Eis nas nossas mãos um pequenino embrulho de humanidade, completamente indefeso, totalmente dependente de amor e cuidados.’ (p. 18)
‘Numa sociedade que coloca as necessidades dos adultos no centro, as crianças não se saem muito bem.
• As crianças são evitadas.
• As crianças são mortas antes do nascimento se forem indesejadas.
• As crianças são produzidas em laboratório se forem desejadas.
• As crianças são enganadas sobre a sua linhagem.
• As crianças são congelas como embriões e usadas para investigação.
• As crianças crescem em úteros de aluguer.
• As crianças são compradas e educadas por casais do mesmo sexo.
• As crianças são entregues nas mãos de estranhos desde a infância.
• As crianças são sexualizadas logo desde o jardim-de-infância.
• As crianças são confundidas sobre a sua identidade sexual.
• As crianças são doutrinadas sexualmente desde a escola primária.
• As crianças são encorajadas a «mudar» de género.
• As crianças são expostas aos smartphones.
• As crianças são expostas à pornografia.
• Imensas crianças são vítimas de abuso sexual.
• As crianças ficam órfãs pelo divórcio.
• As crianças têm de crescer em famílias destroçadas.
• As crianças ficam tristes.
• As crianças ficam doentes.
• As crianças são «dopadas» com Ritalina.
• As crianças são despojadas da sua infância.
As crianças são o nosso futuro. As crianças são humanas. As crianças têm dignidade – logo desde o início.
Vamos devolver a infância às crianças, e o futuro novamente a todos.’ (pp. 20-21)
‘O ato de procriação dá prazer quer a animais, quer a seres humanos. O homem e a mulher são atraídos um pelo outro com uma força que pode ultrapassar a vontade e a razão, para constituírem uma união biológica. Mas existe uma grande diferença entre animais e pessoas: nos animais, essa força irresistível surge durante um ciclo anual de reprodução. Nas pessoas, a atração sexual é independente de um instinto imperativo de procriação. Isto dá liberdade para o amor esfusiante, a alegria do desejo, os dramas de partir o coração ente amor e desejo, e os abismos da perversão.’ (p. 26)
‘Como pode a humanidade – não, não é a humanidade, são os influenciadores das tendências ideológicas – comprar a ideia de que a maternidade é um mero incidente para as mulheres, algo que se pode esquecer sem mais, e sacrificar no altar da carreira e da liberdade sexual?’ (p. 30)
‘Se as mães forem respeitadas, também os seus filhos serão respeitados. Mas esta alegação é apenas motivo de troça e ridículo entre as feministas sem filhos que lutam pelo direito ao aborto. Na Alemanha, 67% das jornalistas não têm filhos. Não admira que peguem nos megafones feministas. Elas nunca foram desafiadas por filhos para deixarem de estar autocentradas. Isso não se aprende no redemoinho dos escritórios editoriais, mas no processo de afinação do casamento e da responsabilidade parental.’ (p. 31)
‘Vivemos numa época em que a liberdade individual se tornou a virtude mais importante. Queremos reinar sobre a vida e a morte, e consideramos que isso é absolutamente indispensável para a nossa liberdade. Sou eu quem decide se e quando tenho um filho – e quando não tenho. Os meus direitos e necessidades estão primeiro lugar. Não há nenhum ser mais importante do que eu.’ (p. 33)
‘A missão de vida da americana Margaret Sanger (1879-1966) foi controlar a fertilidade feminina. A sua motivação era evitar que as classes baixas – especialmente a negra – se reproduzissem, porque a sua taxa de natalidade era mais alta do que a da classe alta branca.
A isso, à ideia de tomar medidas ao nível biológico para «melhorar» a raça humana, chama-se eugenia. Legalizar a contraceção e o aborto foi a missão de vida de Margaret Sanger. Em 1921, Sanger fundou a American Birth Control League, que em 1942 passou a denominar-se International Planned Parenthood Federation (IPPF).
Hoje em dia, Margaret Sanger seria afastada e legalmente punida pelo seu racismo. Mas os seus métodos e o seu desrespeito pela dignidade humana foram adotados pela IPPF, uma organização internacional que tenta reduzir a população mundial através do aborto de milhões de crianças. ’ (pp. 39-40)
‘O sofrimento da conceção indesejada pode ser devastador. Uma mulher nesse sofrimento precisa de ajuda, e pode encontrá-la.
Numa cultura de um individualismo extremo, em que tudo gira em torno dos direitos e desejos das pessoas, há uma tentação desmesurada para procurar uma saída: «Livra-te simplesmente dele, é só um punhado de células, o seguro de saúde paga as despesas, depois de uns dias tudo terminou e a vida pode continuar normalmente.
A sério?
Eis as estatísticas: todos os anos, em todo o mundo, mais de 50 milhões de mulheres decidem matar uma criança no seu útero. Na Alemanha, segundo Gabinete Federal de Estatística, 101000 mulheres fizeram-no em 2018.’ (p. 50)
‘A 28 de maio de 1993, o Tribunal Constitucional Federal declarou […] que:
«O embrião desenvolve-se enquanto pessoa, não para ser uma pessoa.»’ (p. 53)
‘A sentença que prescreve que o aborto é «ilegal mas isento de consequências» esvazia o Estado de Direito.’ (p. 55)
‘Com racionalizações bonitas mas sofisticadas, os tribunais de todo o mundo justificam o abandono da obrigação absoluta do Estado de proteger as vidas dos seus cidadãos.’ (p. 56)
‘A ferramenta mais importante para a confusão mental e moral é a distorção sistemática da linguagem para manipular a consciencialização das pessoas.
Um exemplo disso é a palavra «igualdade». Entre que pessoas é que o aborto promove a igualdade? Entre a mulher e o homem, que não pode dar à luz? A criança seguramente não obtém a igualdade porque a vida humana lhe foi retirada.
E «aborto» - que palavra tão estranha! Opera como um tranquilizante mental para mascarar a realidade de uma criança ser morta no útero. Algo é «removido», a gravidez é «interrompida» como se pudesse recomeçar, ou é «terminada», rápida, indolor e sem consequências – ou assim se faz acreditar à mulher.
A cessação da gravidez é apenas uma meia-verdade. Ela cessa porque termina violentamente a vida da criança.
O «tecido da gravidez» ou o «punhado de células» é descartado. Para os pais que querem um filho, o «punhado de células» é desde o início um direito ao filho. Eles celebram quando o teste de gravidez é positivo. Radiantes de felicidade, contam à família e aos amigos que vem a caminho uma criança. E observam extasiados as reações dos irmãos mais velhos do bebé, quando recebem a notícia – há dúzias de vídeos no Youtube a dar conta disso. Eles mostram entusiasticamente a primeira imagem da ecografia do seu bebé: E até poderão colocá-la na porta do frigorífico, onde os filhos possam ver todos os dias o novo irmão. Nunca lhes ocorre falar de «tecido da gravidez». E como é intenso o sofrimento de toda a gente quando esse bebé se perde por um aborto espontâneo!
A organização na Alemanha que mata estes bebés no útero a troco de lucro, com apoio governamental, chama-se Pro Familia, apesar de na verdade, destruir as famílias.’ (pp. 58-59)
‘Na psicologia da comunicação, esta técnica denomina-se «reenquadrar». Quando algo é colocado num novo enquadramento, as pessoas avaliam-no de forma diferente. O que é negativo parece subitamente positivo. Por exemplo, um ato que pese na consciência de alguém com culpa é colocado no enquadramento do «direito à autodeterminação» e da «escolha autónoma». Mas isso só dura até o ato ser realizado. O que acontece a seguir é o que foi bem descrito por Goethe no seu livro Os anos de Aprendizagem de Wilhem Meister: «Despeja-se a culpa na desafortunada pessoa e a seguir deixa-se que ela sofra a dor». Isto caracteriza a síndrome pós-aborto (SPA), a grave consequência do aborto.’ (pp. 59-60)
‘Com a descoberta da fertilização in vitro, tornou-se tecnicamente possível e legalmente permitido roubar voluntária e intencionalmente o parentesco a uma pessoa.’ (p. 73)
‘A mulher, ou o casal, que recorra aos métodos de reprodução artificial embarca no que pode ser uma viagem de um ano numa montanha-russa de esperança, ansiedade, humilhação, alegria e medo, que em quatro de cada cinco casos acaba numa desilusão profunda.’ (p. 79)
‘Para crianças TRA [tecnologia reprodutiva artificial], o risco de esquizofrenia e de psicose era 27% mais elevado, de ansiedade e outras perturbações neuróticas como a anorexia, 37% mais elevado, de perturbações comportamentais, como PHDA, 40%, e de perturbações do desenvolvimento mental, como o autismo, 22%, quando comparadas com crianças geradas por meios naturais.’ (p. 84)
‘Uma criança gerada numa barriga de aluguer cresce sozinha e não é amada num útero alugado. Anteriormente, o útero duma mulher era um local idílico e seguro, que imprimia no coração humano um irreprimível anseio por uma unidade perfeita. Para a criança gerada por uma barriga de aluguer, o útero é uma masmorra escura em que não entra um único raio de amor ou de antecipação, porque a mãe sabe que tem de entregar a criança a estranhos imediatamente após o nascimento. Ela tem de se formar a não ter qualquer relacionamento com a criança que freme dentro dela. Tem de refrear a alegre afeição, porque ela se transformaria inevitavelmente numa grande dor depois do nascimento.’ (p. 87)
‘A Índia, que em tempos foi a fábrica de bebés do mundo, com 3000 clínicas de reprodução, baniu a maternidade comercial através de barrigas de aluguer em 2019, e a Tailândia em 2015. Mas o negócio é florescente na Ucrânia e na República Checa.’ (p. 89)
‘Nenhuma pessoa tem direito a um filho; o filho é que tem direito aos seus pais biológicos.’ (p. 94)
‘As mulheres podem agradecer à «libertação das mulheres» o facto de apenas valerem o que o seu emprego lhes paga. Cuidar de crianças não conta como trabalho. A mulher que o faz não recebe nenhum reconhecimento, nenhuma ajuda financeira, e nenhuma pensão de reforma adequada, mesmo estando a fazer o trabalho mais importante de todos. Não só ela dá a vida a crianças que vão financiar as pensões duma população cada vez mais envelhecida, como dela dependem o futuro de toda a sociedade, a sua mera existência, o desenvolvimento das duas capacidades e a sua personalidade.’ (p. 113)
‘Cada resistência à doutrinação sexual das crianças em idade escolar é abafada pelos meios de comunicação social, ou atribuída ao mundo obscuro dos resistentes que perderam o comboio do pós-modernismo.’ (p. 164)
‘A assunção fundamental da nova educação sexual é a ideia de que uma criança é um ser humano que desde o início tem direito à atividade sexual e a experiência de luxúria tal como os adultos têm. Qualquer que seja o documento sobre educação sexual abrangente […] em que se pegue, todos defendem o mesmo: uma nova pessoa sexualizada sem identidade de género ou identidade familiar. Essa pessoa pode mudar de género. Ele/ela/diverso reduz a sexualidade à luxúria física, desconhece limites morais para a atividade sexual, evita a procriação através da contraceção e do aborto, e encara o casamento de um homem com uma mulher como uma relíquia do tempo patriarcal.’ (p. 164)
‘A International Planned Parenthood Federation tem 151 organizações filias e representações em 180 países, e por isso imenso poder para implementar os seus programas em todo o mundo.’ (p. 169)
‘A «liberdade de escolha» de matar um bebé no útero da mãe é apresentada às mulheres e aos jovens com outra expressão codificada: «saúde e serviços reprodutivos». No obscuro jargão da ONU e da EU, o acesso universal aos contracetivos, o aborto e a educação sexual nas escolas são globalmente apresentados como «os níveis mais elevados de cuidados de saúde». Mas as promessas revelam-se novamente ciladas em prol das estratégias dos revolucionários sexuais, que fazem o oposto do prometido.
Sexo seguro é algo que não existe. O sexo promíscuo levou a uma epidemia de doenças sexualmente transmissíveis – um quarto de todas as adolescentes americanas sexualmente ativas já as contraiu. A gravidez também não pode ser evitada a 100% como um efeito secundário, indesejável do sexo, mas produz novos clientes para a indústria abortiva.’ (p. 169-170)
‘Os educadores sexuais normalmente chegam de fora e dão a impressão de serem «especialistas», mais competentes portanto do que os professores ou os pais. Simultaneamente, apresentam-se aos estudantes como amigos, pessoas de confiança e defensoras contra pais severos e as suas ideias morais fora de moda. Eles desviam as crianças e os adolescentes, cujo desejo sexual foi prematuramente estimulado, para os seus objetivos contrarrevolucionários. Eis os seus métodos:
• Descrever a sexualidade permissiva como normal e generalizada: «Toda a gente o faz»;
• Criar pressão no grupo de crianças da mesma idade;
• Destruir o sentido do pudor brincando com pénis de plástico, vaginas de peluche, preservativos, verbalizar processos sexuais em toda a turma, bem como papéis sexualmente orientados e exercícios físicos;
• Descrever pormenorizadamente o comportamento sexual, por palavras, imagens e filmes;
• Descrever as doenças sexualmente transmissíveis juntamente com a gravidez, como efeitos indesejados do sexo;
• Não mencionar o casamento e a família;
• Descrever estruturas familiares degeneradas como iguais;
• Educação paritária: treinar e utilizar adolescentes da mesma idade para a educação sexual.
Que ninguém se deixe enganar pela propaganda que se refere a esta educação sexual como moderna, esclarecida, «científica» e amiga dos jovens, e aos seus oponentes como resistentes fundamentalistas.’ (p. 171)
‘As elites políticas dos países ocidentais estão a promover a dissolução da identidade de género: o Presidente americano Barack Obama disparou o foguete da fase seguinte do LGBTIQ no dia seguinte ao da legalização do «casamento» entre pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal, a 26 de junho de 2015. E deu início à «batalha das casas de banho» ao ordenar às escolas que permitissem aos alunos transsexuais a utilização da casa de banho ou do vestiário que preferissem. Isto significava que um rapaz que alegasse ser uma rapariga podia meter-se no chuveiro com as raparigas, por decreto presidencial.’ (p. 173)
‘Antes e depois da transformação, a taxa de suicídio para as pessoas transgénero é oito vezes mais alta do que para a média da população – 41% versus 5%.’ (p. 175)
‘Como é possível que no período de apenas uns anos a destruição da própria identidade de género duma pessoa – com consequências graves para toda a vida – se tenha tornado uma moda entre os jovens, e seja apoiada pelo Governo e pelos meios de comunicação social? Como é possível que nem os tribunais nem as autoridades médicas tenham intervindo, e evitado os graves prejuízos para as crianças?
Num manual de 65 páginas redigido por uma das maires firmas de advogados do mundo, juntamente com a Fundação Thomson Reuters (comunicação social) e uma organização da juventude LGBTIQ, foram delineadas estratégias e táticas para alterar a consciência das massas, os direitos dos pais à educação dos filhos, e a legislação. O documento intitula-se Only Adults? Good Practises in Legal Gender Recognition of Youth.
Um grande obstáculo ao direito à livre escolha do género pelas crianças e pelos jovens são os direitos dos pais que recusem o seu consentimento. O manual explica táticas experimentadas para os grupos de lobbying evitarem o surgimento de resistência, e a forma de implementar leis antes que a opinião pública saiba sequer que elas existem:
Ajam mais depressa do que o Governo e publiquem propostas legislativas progressistas antes que o Governo o faça;
Escondam a vossa campanha atrás da cortina de fumo doutra campanha que tenha aceitação em geral. Por exemplo: direitos transgéneros para as crianças no âmbito da campanha a favor dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo;
Evitem relatórios na comunicação social; em vez disso, façam lobby junto dos políticos.
Se o debate entre os grupos de interesse em causa for substituído por estratégias de manipulação sofisticadas, e os políticos e os juízes estiverem dispostos a ler pela mesma cartinha, então a democracia será esvaziada de dentro para fora até que, finalmente, deixe de existir direito à diferença de opinião ou de atuação.’ (pp. 177-178)
‘«se não lhe pedem para pagar o produto, você é o produto.»’ (p. 208)
‘O divórcio despedaça as fundações.’ (p. 222)
‘Porque é que a nossa sociedade só considera a «felicidade» dos pais, e não os sofrimentos dos filhos?’ (p. 222)
‘Porque é que a sociedade não vê mal nenhum no facto de os pais esperarem que os seus filhos aguentem tudo isto, e exigirem que eles o aceitem sem se queixar? Viver doravante com apenas um progenitor; trocar de casa de duas em duas semanas; ser o pneu sobressalente numa família patchwork; ter de aceitar o novo parceiro da mãe ou a nova parceira do pais mesmo quando isso lhe rasga o coração…
A resposta é tão simples como dissimulada: para que o problema da culpa nunca seja levantado. Muitos estados norte-americanos eliminaram o princípio do divórcio culposo por volta de 1970. Na Alemanha, basta que um casal viva separado durante um ano; depois disso, um dos parceiros pode obter o divórcio mesmo contra a vontade do outro.’ (p. 223)
‘Se olharmos para o contexto da família nos grupos de risco, a imagem é ainda mais drástica. A grande maioria dessas crianças e desses adolescentes em sofrimento vem de famílias sem pai:
63% de suicídios juvenis;
76% de abandono escolar;
74% de gravidez na adolescência;
90% de fugas de casa e de crianças sem casa;
70% de adolescentes em estabelecimentos estatais;
85% de jovens a partilharem casa;
75% de jovens em centros de reabilitação do consumo de drogas;
88% de crianças e adolescentes com problemas de inserção.’ (p. 238)
‘A família é anterior ao Estado. O Estado depende da família, e não o contrário.’ (p. 248)
‘Qualquer família saudável é luz e sal no mundo. Qualquer jovem saudável é uma pedra viva para o futuro.’ (p. 251)
‘O mundo em que vivemos – aquele em que as crianças nascem – pulverizou e expôs a arbitrariedade das decisões humanas. O que devia estar unido foi separado: o corpo da alma, o homem da mulher, a sexualidade da fertilidade, a procriação da sexualidade, a crianças dos seus pais biológicos. Não terá chegado a altura de juntarmos novamente o que deve estar junto – corpo e alma, homem e mulher, sexualidade e fertilidade, pais e filhos?’ (p. 266)