Havia um homem que nunca vira o mar. Era esta a sua maior tristeza. Mas temia, também, que, de vê-lo, com ele tanto se fascinasse que já não desejasse regressar.
E essa tristeza avolumava-se-lhe
na alma.
Já bebera de muitas águas, já
vira muitos rios, já se fascinara com belos lagos. Mas nunca se satisfizera com
tal, porque nenhum deles era o mar.
Os seus amigos, de tanto lhe
ouvirem esta tristeza, decidiram trazer-lhe o próprio mar, a tornarem-no
presente, na sua vida, pois também eles já sabiam o que era o mar. Já outros se
tinham decidido a mostrar-lhes quão belo ele era. E nunca mais desejaram nada
que fosse menos do que o mar.
Juntos, deslocaram-se a uma das
praias, levando uma grande tina que mergulharam nas águas calmas de uma baía.
Com a água, vieram, também a areia, pequenos peixes, algas e o odor. Ah, o odor
do mar!
Com cuidado, para que a grande
tina de água não se entornasse, regressaram à casa do amigo.
Como se lhe abriram os olhos! A
água era brilhante, cheia de cores e brilhos a que o sol conferia matizes
diversos. E o cheiro a iodo... E os peixes e todo um manancial de vida
salgada... Tudo aquilo era mar. Nada lhe faltava.
Do mar só precisava, agora, de conhecer
a imensidão porque ali estava tudo o que era o mar. O encontro com a imensidão
ficava, porém, reservado para quando a vida, de tão inebriada com a memória do
mar, se cansasse e se decidisse a regressar ao infinito oceano. Até aí, restava
viver com a saudade de uma memória do futuro: a do eterno.
E era Natal!