domingo, abril 07, 2024

Caminhada pela vida | Contra rótulos e preconceitos, os factos. Simplesmente, os factos


 Artigo originalmente publicado em https://diocese-aveiro.pt/cultura/

No dia 6 de abril, sábado, o país mobilizou-se para afirmar que a vida humana é portadora de uma dignidade (inerente) que a torna merecedora de proteção.

Com honrosas exceções, em que merecem destaque a Sic, a Renascença, a Ecclesia e a imprensa de âmbito regional (sempre atenta à autêntica realidade e não preocupada em ficcionar sobre ela…), esta manifestação, que reuniu alguns milhares de pessoas em doze cidades do país (que inclui ilhas!), foi brindada com o silêncio da imprensa de âmbito nacional.

Como tem ocorrido, aliás, ao longo dos tempos.

Infelizmente, a causa da vida parece não ter ‘boa imprensa’. Nunca a teve, mas estou certo de que terá bom tempo, o bom tempo do lugar certo da história da humanização.

E quando merece algum lugar de referência, é, com frequência, como forma de se lhe atirar com os habituais epítetos preconceituosos que sossegam os ânimos dos potencialmente mobilizáveis e pretendem isolar os mobilizados.

Entre esses epítetos e preconceitos, contam-se, como mais frequentes, os de que são os crentes que estão a tentar impor a sua vontade aos demais ou que se trata de movimentos que visam assegurar um retrocesso em ‘conquistas’.

Antes de avançar para os factos, gostaria de enfrentar estes dois ‘brindes’ com que costumamos ser rotulados.

Como crente que sou, agradeço o reconhecimento de que a opção crente está do lado dos que protegem a vida humana, em particular quando se encontra mais frágil e mais dependente, mas o meu agradecimento tem de ser honesto. Como bem reconhecia Norberto Bobbio, um laico, socialista e descrente, reconhecido político e pensador italiano, ‘não se pode (nem deve) entregar aos crentes o monopólio da defesa da vida humana.’ Ele mesmo sabia que esta não era uma questão de natureza religiosa, mas de ordem humana, humanitária. De qualquer modo, como crente, não posso senão sentir-me honrado com aquela que pensam ser uma ‘acusação’ ofensiva. Agradeço-a, mas a honestidade obriga-me a colocá-la onde deve estar. As motivações religiosas somam motivos, mas não precisamos da fé para reconhecer que temos o dever de cuidar uns dos outros. É a base de uma sociedade solidária…

O outro epíteto é o de que a defesa da vida humana contra as arbitrariedades da liberdade individualista seja um retrocesso.

Lamento defraudar os que se consideram progressistas por defenderem o aborto, o infanticídio, a eutanásia, etc. Daí já vimos e não queremos lá voltar. Ao longo da história, a tentação de desvalorizar a criança, o filho no útero, o doente, o idoso, foi omnipresente, mas as conquistas de humanidade levaram-nos a reconhecer que não era andar para a frente a sua legitimação, mas um autêntico regredir ao tempo em que nos abandonávamos, por sermos um empecilho no nomadismo. Hoje, já não estamos aí.

Como recordava o Cardeal Tolentino de Mendonça, no seu discurso de 10 de junho de 2020, e invocando ideia defendida pela antropóloga Margaret Mead, o primeiro sinal de humanidade foi um ‘fémur cicatrizado’, o primeiro sinal de que não abandonámos à sua sorte ou, melhor, à morte, aquele que partiu uma perna e não podia acompanhar-nos. Ficámos ao seu lado e ajudámo-lo a erguer-se…

Defender que é legítimo matar (um filho ainda precariamente desenvolvido ou um pai idoso e doente) não é um avanço. É um enorme retrocesso. Um enorme retrocesso!

Mas porquê?

 

Os factos

 

Facto 1

A morte é irreversível. As circunstâncias que envolvem a vida e o seu desenvolver-se são, por sua vez, reversíveis. É pouco lógico e pouco consistente legitimar um ato irreversível por circunstâncias que poderíamos mudar, porque são reversíveis. Poderemos ser mais ricos ou mais pobres, mais livres ou menos livres, mais dependentes ou mais autónomos, mais belos ou esteticamente menos dotados, mais robustos ou mais frágeis, mais sofredores ou mais saudáveis… Tudo isso é móvel e volúvel. A morte é que é irreversível. Ora, é por isto que os constituintes perceberam que a vida teria de ser inviolável. Não se lhe deveria poder tocar com a legitimação do seu abrupto e voluntário fim. Porque nenhuma circunstância é mais valiosa do que a vida aberta ao amanhã.

 

Facto 2

Um filho, desde o início, desde a fusão de um espermatozoide com um óvulo, passa a ser o fruto de dois: um pai e uma mãe. Deste modo, sabendo que, pela natureza das coisas, o filho só pode desenvolver-se no útero de um, esse filho não é posse desse que lhe permite desenvolver-se, não só pela dignidade inerente ao filho (é um ser irrepetível e único), mas também porque, enquanto gerado por dois, não pode ser direito de um só. A mãe é a primeira cuidadora, não a possuidora do filho, tal como o pai não é, nunca, o seu possuidor, mas o seu outro protetor e cuidador. Ao pressuposto destas considerações dá-se o nome de dignidade. Dignidade não é uma mera perceção de se ser digno; é anterior à própria perceção. É essa condição que deve despertar a perceção.

 

Facto 3

O filho é distinto da mãe, pelo que é um sofisma motivador de reprovação em qualquer cadeira de lógica de primeiro ano pretender confundir o filho com o corpo da mãe, o que é facilmente demonstrável, por exemplo, nos casos em que o tipo de sangue do filho é distinto do tipo de sangue da mãe. O sofisma é ainda assente num outro erro de lógica que é presumir que, se fosse corpo da mãe, então poderia fazer-se o que se entendesse, conclusão que a simples obrigação, por exemplo, de utilizar cinto de segurança deita por terra. O legislador sabe bem que a obrigação de utilização do cinto é estabelecida, não para proteger outros, mas a si próprio, pelo que se demonstra que há um pressuposto, no ordenamento jurídico, de que temos o dever de cuidar de nós mesmos, não sendo legítimo o absoluto princípio de que a minha autonomia poderá legitimar tudo o que eu pretenda fazer-me a mim mesmo.

 

Facto 4

A eutanásia não é um meio de acabar com o sofrimento.

Para isso, existem as terapêuticas várias, entre as quais merecerão destaque os cuidados paliativos.

A eutanásia mata o sofredor, sem incidir sobre o sofrimento. Mata quem sofre, acabando, entre outras coisas, com o seu sofrimento, mas também com o seu futuro e levando consigo todos os que o rodeiam. Como testemunhava um filho de um suicida, em estudo recolhido por Alexandrina Meleiro, na Revista Brasileira de Medicina (Set 2013), ‘quando uma pessoa se mata, não se mata só a si mesma. Mata todos ao seu redor. Mata todos os que a amam.’ A eutanásia não é um suicídio, antes um ato realizado por outrem sobre alguém a pretexto de estar em fim de vida ou em sofrimento, mas é, muitas vezes, pretensamente legitimada como se de um suicídio se tratasse.

Não o é e comporta custos para a confiança nas relações, mas mesmo que fosse um suicídio, seria contraditório que a sociedade defendesse que o suicídio é um mal a combater e, em total contradição, legitimasse a prática da eutanásia.

 

Facto 5

A compaixão não legitima as práticas de morte. Utilizá-la para legitimar o aborto ou a eutanásia é cobardia e um sofisma a denunciar.

A compaixão que pretende suportar a eutanásia e o aborto é um modo fácil de abandono e de deixar de se preocupar com o outro. É um modo assético de encarar o fim da vida, com os seus desafios e exigências. Devemos cuidar. É isso que faz uma sociedade humanizada.

Eutanasiar é próprio das sociedades distópicas como as que Aldous Huxley descreve no seu ‘Admirável mundo novo’, um mundo de humanos robotizados, amorfos e incapazes de enfrentar a condição frágil, próprio de se ser humano.

 

Facto 6

Os que pretendem legalizar estas práticas que tornam vulnerável o ser humano nas suas fases de maior dependência utilizam argumentos que manipulam a realidade e a contorcem até que diga o que querem que ela diga. Invocam, inclusive, os chamados valores europeus, como se a Europa tivesse como único e absoluto valor uma certa ideia de liberdade identificada com um ‘fazer tudo o que se quer’. A Europa tem na liberdade, bem certo, um valor fundamental, mas não absoluto. Anterior ao valor da liberdade está a inviolabilidade da dignidade humana que, como afirma a Declaração Universal dos Direitos do Homem, no seu preâmbulo, fundamenta a liberdade. Sem o reconhecimento da dignidade inerente a todos os humanos (todos, mesmo!), não há liberdade, mas pura arbitrariedade dos mais fortes sobre os mais fracos. E isso não é um valor europeu…

 

Diante destes factos, para onde caminha o futuro?

Sabes, leitor... | 4 | Marca de água do livro de George Orwell, '1984'

 

Rubrica ‘Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página’** | Marca de água de livros que deixam marcas profundas
Parceria: Federação Portuguesa pela Vida e Comissão Diocesana da Cultura
O autor e a obra
George Orwell, 1984, Lisboa, Relógio D’Água, 2021.

George Orwell é o pseudónimo de Eric Blair, nascido em junho de 1903, na Índia Britânica. ‘1984’ representa, com ‘o triunfo dos porcos’, o seu principal legado para a história da literatura, ainda que não seja de descurar o seu contributo enquanto ensaísta. Nos seus ensaios, reflete-se a sua visão crítica da sociedade, sempre bem documentada e sustentada em experiência vivida. Preparava-se, com a diligência de um jornalista comprometido, para cada texto, como ocorreu com o seu ‘como morrem os pobres’, que nasce da sua experiência de internamento hospitalar, por motivo de pneumonia. Assim também o seu ‘na penúria em Paris e em Londres’, publicado em 1933, sob o pseudónimo que o eternizou, emergiu do seu conhecimento profundo da realidade dos pobres e vagabundos.

Lutou na guerra civil de Espanha, ao lado dos republicanos, vertendo essa sua experiência para Homenagem à Catalunha (1938).

Tendo uma visão socialista da realidade, não deixou de se distanciar das experiências do socialismo real, opondo-se, através das suas mais conhecidas obras, ‘Triunfo dos porcos’ (1945) e ‘1984’ (1948), à tentação totalitarista.

É dos mais finos críticos das ditaduras totalitárias.

Marcas de água  (o que fica depois de se deixar o livro)

George Orwell mostra, neste livro, uma dupla liberdade: não só a que se revela no que diz, mas principalmente a que se revela por dizê-lo. Vale a pena lembrar que Orwell (Eric Blair, aliás…) escreve esta obra em 1948. A Rússia saíra vencedora da Guerra e a Europa tornara-se russófila. Ela tinha, afinal, derrotado o inimigo comum, que era o nazismo! Ter a coragem de pôr em causa um regime de que pouco se sabia e que, afinal, derrotara o inimigo que ensombrara o mundo, era ‘virtude’ que lhe custaria sérias adversidades.

‘1984’ é um livro inquietante. Pelo que diz e pelo que deixa subentendido. E, se o que anuncia se tem confirmado, esperemos, vividamente, que não se confirme o que nos reserva a última linha do livro: a entrada em vigor da novilíngua foi agendada pelo Partido para 2050…

Ao livro ‘1984’, cujo protagonista (e vítima) é Winston, devemos algumas das expressões que se incrustaram, como lapas, na linguagem crítica das tentações totalitárias. Ideias e termos como ‘polícia do pensamento’, ‘ministério da verdade’, ‘big brother’, ‘novilíngua’, ‘duplipensar’, ‘patofalar’, ‘pensacrime’ (crime do pensamento), ou o reconhecimento de que ‘quem controla o passado controla o futuro’ perpassam esta obra, surpreendendo a incisividade com que se retrata uma realidade feita, toda ela, de ilusão e manipulação.

Lemos, hoje, ‘1984’ com uma surpresa inédita, pois descobrimos, em cada página, já não o retrato de uma realidade política que julgávamos ultrapassada, mas com a perplexidade de quem vislumbra, ao espelho, as manchas do próprio rosto. Num tempo da cultura woke, manipuladora, revisionista e negadora da liberdade de pensar, a leitura de ‘1984’ faz doer a alma. As personagens de 1984 poderiam ser substituídas pelos nomes de todas as vítimas contemporâneas da ousadia de pensar por si, vítimas de processos de ‘remissão da verdade’, transformadas em ‘impessoas’, desaparecidas para sempre do convívio dos vivos, por terem ousado pensar por si.

‘1984’ é um livro de génio e de um génio que alertou e continua a alertar para a vulnerabilidade da verdade e para como, manipulando as massas, através da criação de inimigos (virtuais e inexistentes, mas omnipresentes), e promovendo uma cultura do medo, se pode perpetuar a posse do poder, distraindo e alienando.

A verdade, como nos leva a concluir, é um fruto vulnerável, nunca imunizado à manipulação de quem comanda as leituras do passado.

1984 é um alerta e devia ser obra de leitura obrigatória, antecedida da de ‘o triunfo dos porcos’. 1984 podia bem ser ‘2023’ ou ‘2024’ ou qualquer outra data de hoje em que se pretende sumir a verdade às manipulações da leitura da verdade, que chegam a fundir, na impessoalidade, indivíduos que, por se pretender esquecer e a obra que deixaram, se considera nunca terem existido. Nunca existiram, mesmo, diria o ‘Grande Irmão’.

Medo, omnivisão do grande irmão, manipulação são os condimentos da ditadura. E que maior ditadura do que a que se faz de poderes cuja sede é impossível determinar?

Na mesma página que o autor (citações)

‘As pessoas tinham de viver – e viviam, por um hábito tornado instinto – no pressuposto de que todos os seus ruídos eram escutados e, exceto às escuras, todos os seus movimentos eram escrutinados.’ (p. 18)

‘Escrever ABAIXO O GRANDE IRMÃO ou abster-se de o escrever não fazia qualquer diferença. Prosseguir com o diário ou não prosseguir, não fazia qualquer diferença. A Polícia do Pensamento iria apanhá-lo na mesma. Havia cometido – e tê-lo-ia feito mesmo que não escrevesse nada no papel – o delito fundamental, que continha em si todos os outros. O pensacrime, como lhe chamavam.’ (p. 32)

‘A pessoa simplesmente desaparecia, sempre durante a noite. O seu nome era eliminado dos registos, tudo o que essa pessoa alguma vez fizera era apagado, toda a sua existência era negada e depois esquecida. A pessoa era abolida, aniquilada: o ermo mais usado era vaporizada.’ (p. 32)

‘Era quase normal as pessoas com mais de trinta anos terem medo dos seus filhos. E com bons motivos, pois rara era a semana em que o Times não trouxesse a descrição de como um pequeno delator – ‘herói infantil’ era a expressão normalmente usada – ouvira às escondidas uma observação comprometedora e denunciara os pais à Polícia do Pensamento.’ (p. 37)

‘”Atenção. A vossa atenção, por favor! Acaba de nos chegar uma notícia sobre a frente do Malabar. As nossas forças no Sul da Índia alcançaram uma vitória gloriosa. Estou autorizado a dizer que a ação militar que estamos a noticiar pode ter contribuído para tornar mais próximo o final da guerra. Segue-se o flash informativo…”

Vêm aí más notícias, pensou Winston. E, de facto, após uma vívida descrição da aniquilação dum exército eurasiático, com prodigiosos números relativos a inimigos mortos e capturados, veio o anúncio de que a partir da semana seguinte a ração de chocolate seria reduzida de trinta para vinte gramas.’ (p. 38)

‘Em baixo, na rua, o vento sacudia dum lado para o outro o cartaz rasgado, com o que a palavra SOCING ia aparecendo e desaparecendo. Socing. Os princípios sagrados do Socing, Novilíngua, duplipensar, a alterabilidade do passado. Winston sentiu como se caminhasse nas florestas do fundo do mar, perdido num mundo monstruoso onde o monstro era ele próprio. Estava sozinho. O passado estava morto, o futuro era inimaginável. Que certeza tinha de ter do seu lado um único ser humano? E como podia saber se o domínio do Partido não iria durar para sempre?’ (p. 38)

‘[…] se toda a gente aceitava a mentira que o Partido impunha – uma vez que todos os registos a repetiam -, então a mentira passava à história e tornava-se verdade. “Quem controla o passado”, dizia o lema do Partido, “controla o futuro; quem controla o presente controla o passado.”’ (p. 46)

‘Esta era a grande subtileza: induzir conscientemente a inconsciência […]’ (p. 46)

‘Toda a história era um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quantas fosse necessário.’ (p. 51)

‘O camarada Ogilvy, que há uma hora não existia, era agora um facto. Winston pensou em como era curioso que se pudesse criar homens mortos, mas não vivos. O camarada Ogilvy, que nunca existira no presente, existia agora no passado, e, quando este ato de contrafação fosse esquecido, a existência dele seria tão autêntica, e documentalmente tão fundamentada, como as de Carlos Magno ou de Júlio César.’ (p. 58)

‘”Não percebes que todo o propósito da novilíngua é encurtar o alcance do pensamento? No final vamos tornar o pensacrime literalmente impossível, porque não haverá palavras para o exprimir.’ (p. 62)

‘A filosofia do Partido negava não só a validade da experiência, mas a própria existência da realidade externa. A maior heresia era o senso comum. […] O Partido dizia às pessoas para recusarem as evidências que lhes entravam pelos olhos e pelos ouvidos.’ (p. 89)

‘Muitas vezes estava disposta a aceitar os mitos oficiais simplesmente porque a diferença entre verdade e mentira não lhe parecia importante.’ (p. 157)

‘Um membro do Partido vive do nascimento até à morte sob o olhar da Polícia do Pensamento.’ (p. 210)

‘Pára-crime significa a faculdade de interromper abruptamente, como por instinto, qualquer início de pensamento perigoso.’ (p. 211)

‘A palavra-chave aqui é pretobranco. Tal como muitas palavras de novilíngua, esta encerra dois significados mutuamente contraditórios. Aplicada a um adversário, significa o insolente costume de afirmar que o preto é branco, contrariando a evidência dos factos. Aplicada a um membro do Partido, significa a leal disposição para dizer que o preto é branco quando assim o exige a disciplina partidária. Mas também significa a capacidade de acreditar que o preto é branco, e, mais até, de saber que o preto é branco e de esquecer que alguma vez se acreditou no contrário. Isso exige uma alteração permanente do passado, tornada possível pelo sistema de pensamento, que realmente abrange tudo o resto, conhecido em novilíngua como duplipensar.’ (p. 211)

‘O Ministério da Paz ocupa-se da guerra, o da Verdade ocupa-se da mentira, o do Amor encarrega-se da tortura, e o da Fartura lida com a fome.’ (p. 215)

‘O que quer que o Partido considere ser a verdade é a verdade.’ (p. 248)

‘Cortámos as ligações entre pais e filhos, e entre um homem e outro, e entre os homens e as mulheres. Já ninguém se atreve a confiar na sua mulher, nos seus filhos, nos seus amigos. Mas no futuro não haverá esposas nem amigos. As crianças serão tiradas às mães à nascença, tal como se tiram os ovos às galinhas.’ (p. 265)

‘Fora principalmente para dar tempo a esse trabalho preliminar de tradução que a adoção definitiva da novilíngua fora fixada para uma data tão longínqua como 2050.’ (p. 307 – última frase do livro).

**(Título retirado de Daniel Faria, Dos líquidos, Porto, Edição Fundação Manuel Leão, 2000, p. 137)

*Professor, Presidente da Comissão Diocesana da Cultura
Autor de 'Ensaios de liberdade', 'Bem-nascido... Mal-nascido... Do 'filho perfeito" ao filho humano' e de 'Teologia, ciência e verdade: fundamentos para a definição do estatuto epistemológico da Teologia, segundo Wolfhart Pannenberg'
 

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