Sugestão de Leitura
Mendonça, José Tolentino – O pequeno caminho das grandes
perguntas. Lisboa: Quetzal, 2017, 165pp.
Há livros a quem devemos deixar
falar… Eles falam por si. Este é um desses livros.
Lê-lo é um acontecimento, um
marco na vida. A começar, neste caso, pelo prazer de o ter na mão. É um livro
aprazível ao tacto e bonito.
Mas a beleza de que falam a capa,
as folhas, a cor e a textura do papel – isto também é ‘livro’! – revela o belo
do que desvendam as palavras.
Cada texto não excede o limite de
uma página. Mas a densidade do que diz gera atitude de contemplação em que o
lê. Sentimo-nos conduzidos como que por um «pastor do ser» que nos desvenda a
nossa própria natureza. Natureza que se faz muito mais de perguntas do que de
respostas. As próprias perguntas são, em si mesmas, densas respostas.
Tolentino de Mendonça escreve com
uma mestria que nos desassossega, nos inquieta. Nada lhe é indiferente, porque,
como dizia Terêncio, «nada do que é humano [lhe] é estranho». Como quando
reconhece que «a vulnerabilidade é um acontecimento total» ou que «a pergunta é
a grafia da excedência com que a vida se manifesta». As palavras são como que
potência germinal, como que sementes fecundas na alma de quem as lê. E não é
pouco serem sementes, desafio a quem ousa acercar-se delas, pois «quem não
esperar pelas sementes que lançar jamais provará a alegria de vê-las
acenderem-se sobre a terra, como milagre que nos resgata.» Este livro é um
futuro em potência. Assim encontre terra fértil onde possa fazer germinar tal
sementeira.