Texto originalmente publicado no Correio do Vouga [edição de 24 de julho de 2024]
Amar é muito mais do que tolerar!
Cuidar é muito mais do respeitar!
Contemplar, muito mais do que
ver e admirar!
Adorar, muito mais do que apreciar!
Acolher o outro como irmão, muito mais do que
incluir!
Viver na esperança, muito mais do que ter
pensamento positivo ou forte desejo!
Ver o mundo como criação e dom, muito mais do que
olhá-lo como casual e anónimo correr do tempo e da matéria.
Desse outro modo de olhar as coisas fala a
disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, um lugar único em todo o
contexto escolar.
Todos percebemos que devemos respeitar-nos,
incluir, adotar comportamentos respeitadores do ambiente, mas precisamos de
perceber porque o deveremos fazer. Não basta dizerem-nos que o devemos fazer
‘porque sim’, ou porque nos devemos tolerar, ou porque os sinais temíveis estão
diante de nós. O medo, o ‘porque sim’, o dever imposto a partir da lei escrita
podem ser eficazes, mas não nos satisfazem o desejo profundo de encontrar
razões sólidas e robustas.
EMRC, ao ousar ver o outro como irmão, ao procurar
as razões para essa original fraternidade, ao lançar uma visão sobre o mundo
como criação, é lugar único para problematizar e encontrar as razões sólidas
que não caem com a primeira ventania.
Se não fosse EMRC, no espaço escolar, como
poderíamos fundar uma autêntica fraternidade, se não nos referíssemos a um
‘Pai’ comum? Como poderíamos alicerçar uma genuína ecologia não baseada no medo
do afundamento do mundo (porque as alterações climáticas nos atemorizam), mas
sim no reconhecimento do mundo como dom recebido?
Se não fosse EMRC, quem falaria das relações entre
as pessoas baseadas no ‘amor’? Quem ousaria desafiar ao cuidado muito para além
do mero respeito? Quem nos diria que o mundo é para ser contemplado porque é
transparente de uma realidade para além do visível?
E, afinal, quem ousaria despertar os jovens para
todos os valores para além do mero princípio de que nos devemos respeitar uns
aos outros? Quem nos diria que respeitarem-me não tem de significar aceitar
tudo o que penso e faço? Quem nos ajudaria a distinguir a pessoa dos seus atos,
desafiando ao acolhimento da pessoa, mesmo que rejeitando e recusando o que ela
faz?
Quem nos ajudaria a encontrar o equilíbrio entre o
relativismo (que aceita tudo o que se faz em nome da tolerância para com todos)
e o absolutismo (que rejeita todos os que seguem ideias ou agem
incorretamente), inspirando-se na ação de Jesus Cristo que acolhe a mulher
adúltera e recusa o adultério?
Quando, em tempos confusos, alguns querem propor
modelos de sexualidade em que se busca o igual ou se basta em encontrar-se a si
mesmo, EMRC desafia a ousar partir de si e construir-se no encontro com o outro
diferente do próprio, pois é na diferença que se constroem as identidades.
EMRC tem uma identidade, uma matriz. É uma
disciplina que propõe o encontro entre a moral e a religião católicas e outras
realidades que emergem no contexto escolar. Mas esta matriz não é um defeito: é
uma virtualidade e uma oportunidade. Como poderá haver diálogo sem identidades?
Como poderá haver ‘ventos favoráveis’ se não
sabemos para onde queremos ir? Como poderemos discernir entre o bem e o mal,
entre o correto e o incorreto se não temos um rumo?
EMRC proporciona espaço e contexto para despertar
para um rumo, para um caminho, dando conteúdo aos desejos que se alimentam na
cultura escolar. Não seria muito pouco se ao fim dos anos de escolaridade a
única conclusão a tirar fosse a de que se aprendeu, apenas, que cada um deve poder
fazer o que quer? E quem nos ensina a buscar o que, autenticamente, devemos
querer?
EMRC, ao abrir ao sentido definitivo da vida, ao
inspirar-se no modelo que é Jesus Cristo, ao olhar para a longa história
(também de luzes e sombras) do Cristianismo na narrativa da humanidade, ao
despertar para um olhar que vê transparecer, na realidade, a dimensão
espiritual, cria condições para que cada um dos alunos possa descobrir as
verdadeiras razões para amar, ter esperança, cuidar, acolher, adorar, contemplar,
agradecer… E, por isso tudo, ser uma pessoa mais feliz e um cidadão mais
comprometido.
Quanto se perderia se EMRC deixasse de ser o
pulmão de ar puro e renovado das escolas!