Começaram os jogos olímpicos de Paris.
Sou um apreciador do espírito olímpico e do ideal que lhe subjaz.
Reconheço no jogo, enquanto metáfora, simulada e simbólica, da «vitória» sobre o outro sem o derrotar existencialmente, uma das mais inteligentes descobertas da humanidade. Aliás, estará entre algumas das especificidades humanas.
Precisamente por tudo isto, em tempos de tantos conflitos, espera-se que os Jogos Olímpicos sirvam o objetivo para que foram recuperados do esquecimento e consigam evocar os mais sólidos valores em que todos nos reconhecemos. ‘Citius, Altius, Fortius’ são interpelações à constante superação, dinamismo que, aliás, o cristianismo sempre promoveu, ainda que consciente de que a humanidade, por si só, não é suficientemente capaz de o atingir. A meta é sempre Deus, que atrai, e a Quem a humanidade responde.
A história guarda, também, memória de que, nos tempos que rodeavam os jogos olímpicos, as cidades-estados gregas suspendiam as guerras, criando uma trégua olímpica, desafio tantas vezes repetido pelo Papa Francisco. Bem se espera que esta seja uma oportunidade não perdida, para que se possa, de facto, fazer jus à história.
Os jogos Olímpicos de Paris abriram com uma cerimónia cheia de luz e simbolismo. A magnitude dos meios e a densidade dos símbolos não deixaram ninguém indiferente, pelo que maior é a proporção e o alcance das opções seguidas.
Não podemos, por isso, deixar de nos associar às muitas vozes que sentiram que, a pretexto de certas opções culturais, os organizadores da cerimónia consideraram ser legítimo ridicularizar símbolos cristãos. O povo diz, e bem, que ‘quem não se sente não é filho de boa gente’. A indiferença seria a opção mais conveniente, mas uma certa cristofobia progressivamente implantada e já diagnosticada por pensadores insuspeitos como o judeu Joseph Weiler, obriga a que não se permaneça indiferente, no mesmo momento em que, por causa da fé, em muitos quadrantes deste planeta que se diverte e joga, tantos são mortos e continuam a ser feitos mártires.
Sentir-se ofendido é um sentimento meritório e digno de respeito. Em tempos que tanto valorizam a imagem e as simbólicas associadas às linguagens, seria, aliás, estranho ou inquietante que os cristãos não se tivessem manifestado.
Acusam-nos de o fazermos por sermos conservadores, como se isso, por si, fosse um erro. Mas vale a pena recordar que quem não conserva deixa estragar…
Evocar a memória cristã que fundamenta valores como os que preconizam os jogos olímpicos poderia ter sido feito com um espírito que elevasse ‘mais alto, mais longe e mais profundamente’. Essa não foi a opção e isso entristece-nos. Quem nos pode impedir de o sentir? E quem nos pode impedir de pensar que, a pretexto da defesa da diversidade, se pretende promover uma certa imoralidade, ao arrepio, aliás, do que está plasmado na própria legislação dos países?
Não pode haver liberdade autêntica sem o respeito pela dignidade própria e dos demais.
Sejam estes jogos uma oportunidade para elevar mais alto a humanidade, em torno dos valores mais nobres, mais densos, autenticamente mais construtores de uma genuína fraternidade que se fundamenta no reconhecimento (implícito ou explícito) de que um Pai comum a todos é que nos faz irmãos.
Viva o autêntico espírito olímpico!