quarta-feira, maio 16, 2012

Maio – mês da vida Lições para tempos de crise



Maio é um mês cheio de sinais que desafiam a olhar para o essencial: é o mês do coração, o mês da Mãe, o mês de Fátima, o mês da Vida.
Este pretexto serve-me de mote para recuperar memórias de tempos em que outras crises desafiaram a encontrar rumos.
Recuo a 1998. Nesse ano, Portugal efervescia, diante da iminência do primeiro referendo nacional, a realizar em 28 de junho, dedicado ao tema «aborto». Nesse mesmo ano, Portugal voltaria a ser chamado para se pronunciar em referendo, mas já sobre a regionalização, em novembro do mesmo ano. Sobre esta última matéria, não voltaria a surgir novo momento para pronunciamento popular. Já sobre o aborto, a insistência em que esta seria matéria «de progresso» fez com que se regressasse ao assunto em 11 de fevereiro de 2007.
A história é por todos conhecida, servindo, seguramente, no futuro, de pretexto para estudos sobre como se manipulam as consciências no sentido de demonstrar que o inadmissível possa tornar-se aceitável. Mas não é, por agora, o núcleo em que encontrarei um modelo de como proceder para superar uma crise.
Regressemos a 1998.
O país efervescia. De um lado, os que defendiam que a liberdade de abortar era um direito da mulher; de outro, os que sustentavam que nada podia legitimar a morte dos indefesos. Então, como hoje, eu estava do segundo lado, certo de ser a posição em que ninguém perdia. Então, como hoje, estava convicto de que o outro lado defendia um contra outro, a mãe contra o filho.
Mas, nesses tempos, os que se encontravam do mesmo lado em que eu me situava, verificaram que a sua posição apresentava uma aparente fragilidade. Era magra a resposta que se tinha para dar às mulheres que se sentiam vítimas de pressões para abortar: não tinham, ou não sabiam, a quem recorrer para evitar o que não pretendiam.
Apesar de o aborto, como qualquer morte provocada de um inocente, ser, antes de tudo, matéria de ética e de moral, esta fragilidade não deixou de constituir um desafio e de provocar uma crise que exigia resposta a todos os que reconheciam que a vida vale todos os esforços.
O referendo realizou-se, vencendo, então, o «não».
Para muitos, para os que consideram que o mundo é só aquilo de que falam os meios de comunicação social, a partir dessa data não houve mais nada até 2007. A realidade, porém, foi outra. A partir dessa data, começou, em Portugal, toda uma onda de resposta ao drama do aborto, surgindo, um pouco por todo o país, associações e outras instituições que vêm assegurando, desde então, respostas estruturadas para as mulheres e famílias que necessitam de apoio para que os seus filhos possam nascer.
Essa onda, que uniu esforços para que se encontrassem respostas que o Estado teimava em não dar, esteve na origem de um movimento de que nasceu a ADAV-Aveiro, fundada em 21 de julho de 2000, como fruto da união de esforços de 30 pessoas, entre as quais eu próprio me contava, e a quem outras se associaram. Pessoas que entendiam que essa era a hora de responder a um desafio que o Estado fazia de conta que não existia. A associação nasceu, cresceu, vendo reconhecido, a partir de 2004, o seu estatuto de IPSS. Hoje, em cada ano, a ADAV-Aveiro acompanha mais de 100 famílias, e assegura condições para que, por ano, várias dezenas de crianças possam nascer, auxiliando-as nos primeiros anos de vida.
Tendo sede em Aveiro, a ADAV acompanha famílias de todo o distrito. Conta com pouco mais de 100 sócios e alguns benfeitores, sendo uma associação que presta todo o apoio com recurso a voluntários e graças à generosidade de todos os que reconhecem nesta uma verdadeira causa nobre.
Na origem desta associação, reserva-se uma mensagem para todos os tempos de crise: quando o desafio está diante dos nossos olhos, não há que desviar o olhar, mas ver por onde é o caminho que atravessa a crise.
Então, como hoje, não há que esperar que sejam os outros a responder, mas aceitar que a crise é o crisol em que se purifica o ouro. Pode ser dura, mas se não nos acomodarmos, saberemos sair reforçados.

Luís Silva
Presidente da direção da ADAV-Aveiro

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