Terminado o oitavário pela unidade dos cristãos, parece que se fecham as tendas de uma feira em que se expuseram boas intenções, aguardando pela mudança do calendário, como se mais nada ocorresse, entretanto. No entanto, esta é apenas uma ilusão. Na verdade, de há muito que ocorre, semana após semana, em cada ano, em cada escola deste país, pública ou particular, um discreto e pouco badalado momento permanente de ecumenismo e diálogo inter-religioso.
A surpresa desta notícia é, seguramente, para muitos, tão grande como a expectativa sobre o facto a que estarei a referir-me. Tanto maior quanto o desconhecimento sobre o precioso trabalho que a este mesmo facto se deve na causa da defesa dos mais nobres valores, dos mais sólidos alicerces de uma sociedade que se pretende plural, respeitadora, mas também capaz de assegurar o conhecimento e reconhecimento das identidades e das particularidades.
Em cada semana, mais de cinquenta por cento dos alunos de todo o ensino básico nacional fazem parte deste delicado, longo e sólido trabalho de ecumenismo que envolve, não só alunos católicos, mas também ortodoxos e protestantes dos mais diversos ramos. Descobrem o que causou as ruturas, bem certo, mas entendem, também, que, como me dizia, há dias, um aluno, essa é só a primeira parte de uma narrativa que, na disciplina de História, só lhe contam ser de conflito. Ele acabava de descobrir que, afinal, essa história era, de há mais de cem anos, uma outra história de aproximação e encontros. Nunca ouvira falar da palavra «ecumenismo», que confundia com «comunismo» e «economia», como tantas outras pessoas a quem pedi que, com os seus colegas, entrevistasse.
Esse acontecimento diário, que ocorre em todas as escolas deste país é, ao contrário do que muitos querem continuar a fazer crer, parte da solução e não do problema ecuménico em Portugal. Esse acontecimento diário, que se faz com mais de metade de todos os alunos que frequentam as nossas escolas, chama-se «educação moral e religiosa católica». Uma disciplina que, mesmo os próprios cristãos, parecem continuar a desconhecer, desconsiderando-a como menor. Uma disciplina em que se descobre a fraternidade das três religiões do Livro (7º ano), ou a unidade e diversidade do cristianismo (8º ano) ou, ainda, o que possam ter a ensinar o ateísmo e o agnosticismo, assim como as religiões orientais (9º ano). Uma disciplina que, a partir de um lugar identificado, o da matriz cristã católica, se dispõe a dialogar. Um diálogo que não acontece, apenas, enquanto desejo. Nela se realiza, de facto, o que pretende. Assim me acontece, em concreto, pois, entre os meus alunos contam-se não apenas católicos, mas também de outras confissões (mais numerosos são os ortodoxos) e, mesmo, descrentes que se sentem em busca, realidade plural que sei acontecer com tantos outros professores deste país.
Mas, nesta nação em que se cultiva o adiamento da esperança, muitos teimam em não querer reconhecer que ali, naquela disciplina dita menor, está a acontecer história.
Como dizia D. António Couto, num debate organizado pela Diocese, em Estarreja, esta é uma geração nova, mais disponível para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. E não duvido de que muito tem feito por isso a EMRC. Assim se queira reconhecer.
Luís Silva
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