segunda-feira, agosto 03, 2009

Uma Europa sem Deus?

'Uma Europa sem Deus?' é interrogação que serve de título a uma excelente leitura, feita pelo diplomata austríaco, Michael Weninger, sobre os meandros da discussão institucional e informal acerca da relevância da referência a Deus na Constituição/Tratado Constitucional da União Europeia. Atendendo a que, a certa altura, a discussão se extremou, sem parecer ser possível encontrar uma saída capaz de conciliar as propostas em cima da mesa, reproduzo, aqui, o que se regista na Constituição Polaca, recordado por Weninger como uma excelente saída para o impasse:
«[...] que também aqueles que acreditam em Deus como fonte da verdade, da justiça, do bem e do belo, como os que não partilham essa crença, mas que respeitam os valores universais, assim como de outras fontes [...]»
Bem certo, porém, que, para alguns dos que se envolveram nesta floresta, a pergunta não era com que tipo de árvores se deve reflorestar o terreno, mas o que fazer para que a floresta não volte a nascer... Ora, assim, a discussão é impossível, como muito bem retrata este diplomata, convidado pela Comissão Europeia para integrar e coordenar grupos de trabalho sobre matérias concernentes ao diálogo entre a União Europeia e as Religiões: «O objectivo declarado [da Federação Humanista Europeia, que integrou a iniciativa 'Uma alma para a Europa', de que faziam parte, também, os representantes das principais religiões com expressão na Europa] era a criação de uma UE totalmente secular, em que não haveria espaço para quaisquer outras convicções filosóficas, além da sua própria visão secular, ateísta, etc.. Com esta posição, as organizações humanistas apresentavam-se, convincentemente, como defensoras da tolerância, como se vêem, apesar de elas próprias não serem tolerantes, nem exercerem o humanismo na verdadeira acepçãoa da palavras.» (Uma Europa sem Deus?. Lisboa, Edições 70, p. 236)
Um livro que, apesar de extenso e com algumas dúbias traduções em termos técnicos (nem sempre 'leigo' e 'laico' são bem traduzidos), é precioso para se perceber como minorias ideológicas intolerantes se põem em bicos de pés e encandeiam a clarividência dos demais.
Útil para uma abordagem racional, honesta e respeitadora da presença das religiões no espaço público.

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